A compra de votos, aliciamento de eleitores com cestas básicas, material de construção, dentaduras, remédios, botijões de gás é uma prática criminosa antiga nos bastidores políticos da maioria dos mais de 5,5 mil municípios brasileiros. Em Alagoas não é diferente. A uma semana das eleições, o voto chega a custar R$ 200 para os interessados em vender mediante um cadastro ilegal. No interior do Estado, o negócio varia entre R$ 100 e 150 e mais três meses [anteriores ao pleito] de cestas básicas.
A transação é difícil de flagrar porque ocorre em reuniões fechadas nas comunidades, numa intermediação que envolve supostos cabos eleitorais e eleitores em situação de vulnerabilidade social. O assédio ocorre de forma discreta nas comunidades, feiras, sítios da zona rural e em transporte coletivo.
Alguns eleitores [que pedem para não ser identificados] admitem que desde julho recebem “ajuda” e ainda a promessa de receber entre R$ 150 e R$ 200 na véspera da eleição. Eles mantêm fidelidade aos aliciadores. Quando questionados em quem votam, respondem: “Voto é secreto”.
Já os assédios de eleitores ocorrem às portas das Câmaras de Vereadores. Na de Maceió, diariamente há eleitor querendo “conversar” com políticos para pedir emprego ou dinheiro.
“Na minha família tem cinco votos, preciso de dois empregos. Qualquer coisa serve ou mil reais para pagar contas atrasadas”, disse uma mulher de 32 anos, moradora da Serraria, acompanhada da amiga com pleito idêntico. Cinco rapazes do bairro Benedito Bentes também esperavam vereadores. “Tem gente no bairro comprando voto por R$ 200. Nós queremos emprego ou até R$ 150”, disse um deles.
Os cabos eleitorais envolvidos com cadastramento [ilegal] desapareceram das câmaras. Eles percorrem áreas populosas e vulneráveis em busca de eleitores.
Os vereadores confirmam que são procurados diariamente. Um dos que aceitaram falar a respeito do assunto, o vereador Leonardo Dias (PL), afirmou que se eleger sem comprar votos “é uma luta de Davi contra Golias”. Dias admitiu ser assediado frequentemente.
“As pessoas querem trocar votos por pneus, cesta básica. Pedem 100, 150, 200 reais”, diz o vereador. Ele garantiu que não comprou nem compra votos. “Tem bairro que numa rua os moradores votam num candidato. Na outra rua, todos os moradores declaram voto em outro candidato. Como é isso? Não tem sentido”, lamentou.
O vereador Siderlane Mendonça (PL) revelou, sem citar nomes, que há um poder financeiro de políticos que passaram quatro anos juntando dinheiro para iludir as pessoas. Ao ser questionado quanto custa um voto, respondeu que em média estão pagando R$ 150. “Eu digo aos eleitores que peguem o dinheiro de quem oferece, mas votem em mim”.
Os vereadores de outros partidos dizem que a eleição depende de trabalho nas comunidades. Segundo eles, o eleitor é sabido. “Tem eleitor que pega dinheiro de candidatos e não vota neles”.
O presidente do Tribunal Regional Eleitoral, desembargador Klever Rêgo Loureiro, afirma que comprar voto é crime. “Os canais de denúncia da Justiça Eleitoral estão abertos pelo aplicativo Pardal do TSE ou nos cartórios”.
Para a Justiça Eleitoral agir é preciso a provocação, ensina o magistrado. O procurador eleitoral federal, Marcelo Lobo, disse, recentemente, que as denúncias são investigadas pela polícia judiciária federal.
O aplicativo Pardal recebeu, até a última quinta feira (26) 373 denúncias: 193 contra candidatos a vereador, 96 contra candidatos a prefeito e 84 contra partidos.